domingo, 27 de maio de 2012

Toledo Spain

TOLEDO CIDADE IMPERIAL

Chamam-lhe Cidade Imperial porque foi capital de um reino e de um império. Foi frequentada por artistas, intelectuais e religiosos de todo o mundo. Se chegamos a Toledo pela estrada de Madrid para entrar no centro histórico, deparamos logo com a Porta Nova de Bisagra, magnífica obra mandada edificar pelo imperador Carlos I de Espanha e V da Alemanha. Nela destaca-se o escudo da cidade, com duas águias talhadas em relevo sobre pedra granítica, que, no século XVI, era também o escudo real. Actualmente é o de Espanha. A Porta Nova de Bisagra é enorme e de grande beleza. Une-se a um conjunto que envolve as muralhas árabes que rodeiam a cidade e a Porta Antiga de Bisagra. Esta última tem duas torres de tijolo quadradas, rematadas por azulejos vidrados. A meio existe um anjo a coroar a entrada. Diz a lenda que esse anjo queria impedir a introdução da peste na cidade no século XVI, mas esta pediu-lhe que a deixasse passar porque tinha licença para levar só quatro pessoas. O anjo cedeu e o número de mortos foi quatro mil. Quando o anjo abandonou Toledo, disse à peste que ela não tinha cumprido a sua palavra. Esta respondeu «sim, eu levei quatro, o resto morreu de medo.» Junto à porta, num jardim há uma estátua do imperador Carlos V. Seguindo caminho pela rua Real do Arrabal, em direcção ao centro da cidade, encontramo-nos com a primeira surpresa, a Igreja de Santiago do Arrabal, um dos mais bonitos edifícios do estilo «mudéjar». Como sempre se fala de Toledo é obrigatório utilizar esta palavra, assim como a de «mozárabe» (moçárabe), convém diferenciar ambos os conceitos. A primeira refere-se aos muçulmanos que ficaram na cidade, principalmente arquitectos e construtores que, após reconquistada da Península Ibérica pelos cristãos, nela permaneceram continuando com a sua arte. A segunda refere-se os cristãos que procuraram «parecer-se com os árabes», e que durante o domínio muçulmano assimilaram e desenvolveram a cultura árabe. A Igreja de Santiago, cujo exterior recorda os «minaretes» ou torres árabes, pensa-se que foi construída sobre uma antiga mesquita. Alguns investigadores atribuem a sua construção ao rei castelhano Alfonso VI que, em 1085, expulsou os árabes e incorporou Toledo nos seus reinos. Mas outros têm a opinião de que foi o rei português Sancho II que a mandou edificar no século XII. Esta última versão, que figura em livros de História e inclusive nalguns guias turísticos da cidade, não é surpreendente, já que este rei teve problemas com o seu irmão durante o combate com os muçulmanos no Algarve. Como não lhe foi permitido voltar a Lisboa, refugiou-se em Toledo. O professor Joaquim Veríssimo Serrão, enquanto presidente da Academia da História Portuguesa, pediu ajuda ao Ministério de Cultura espanhol para encontrar, em Toledo, o túmulo do nosso rei, pois suspeita que possa estar enterrado nesta igreja ou na Catedral, onde há outros túmulos de membros da família real de Castela.

TOLEDO (PORTA DO SOL)

PORTA DO SOL. Mais adiante, encontramos outra porta «mudéjar», a do Sol, que, pela sua beleza, é a mais reproduzida ao longo dos séculos em pinturas, gravuras e ilustrações. Construída no século XVI, em pedra e tijolo, tem os típicos arcos de ferradura árabes e os relevos da arte «mudéjar» toledana. Tem, inclusive, alguns elementos recolhidos de monumentos romanos construídos anteriormente no mesmo lugar. Esta mistura de estilos de arte romana, árabe, judaicos, românticos e góticos é características da cidade e obedece à história e tradição local, já que toledo foi, durante séculos, um exemplo de tolerância universal, onde três grandes religiões - muçulmana, hebraica e cristã - conviveram em harmonia. A Escola de Tradutores de Toledo, ponto de intercepção das várias culturas na época, influenciou todo o Ocidente. Esta característica faz com que Toledo tenha sido considerada cidade sagrada e pólo do conhecimento religioso, de línguas, de matemática e de medicina. Sede Primada de Castela primeiro, e, ainda hoje, de Espanha, foi durante séculos a segunda cidade da cristandade, depois de Roma. Em meados do século passado ainda havia uma meia centena de igrejas, algumas delas «mozárabes», sinagogas, capelas, mosteiros e conventos. A decisão de Filipe II (I de portugal) de transladar a capital para Madrid originou a decadência da cidade. Felizmente, grande parte do seu tesouro artístico conservou-se até hoje.

TOLEDO (RUAS)

RUAS. Continuamos o nosso caminho a pé, porque Toledo é uma cidade de ruas estreitas e íngremes, onde não entram automóveis. Em qualquer lugar pode-se encontrar um mosteiro, uma igreja «mozárabe», na qual se pode assistir a uma missa com o mesmo ritual de há cinco séculos, um museu, um palácio ou uma casa medieval com pátios interiores, arejados e .decorados com azulejos, para os dias de muito calor que se fazem sentir no Verão

TOLEDO (DAMASQUINADO)

DAMASQUINADO. Chamam a atenção as lojas de artesanato, nas quais os artistas, que herdaram dos seus antepassados o trabalho do «damasquinado», efectuam o seu labor. Este trabalho consiste em incrustar autênticos fios de ouro em distintas figuras, como Dom Quixote e Sancho Pança, gravadas em caixinhas, pratos ou brincos. São também famosas as armaduras e, sobretudo, as espadas de Toledo, de cuja qualidade falaram os homens de armas e poetas. No passado estas armas abasteciam os exércitos de toda a Europa. Cópias da «tizona» do Cid, e as espadas de Carlos V, Filip II ou do rei Artur, assim como os sabres dos samurais orientais, podem ser adquiridas em qualquer loja. Também se pode adquirir uma armadura medieval em tamanho real. São muito bonitos os bordados e a loiça fabricados em Toledo ou em algumas povoações da região, como Talavera de la Reina. A Praça de Zocodover é o centro dinâmico da cidade. De forma triangular, pejada de bares, restaurantes e bancos, é o ponto de encontro dos toledanos. A imagem que nos transmite é a de uma praça castelhana ou da Mancha, marcada pelas arcadas e edifícios simétricos que a rodeiam. Os bancos de pedra têm desenhos de Dom Quixote e Sancho Pança. personagens que, na obra de Cervantes, andaram pela cidade e pela província de Toledo. o restaurante La Venta de Aires, na periferia da cidade, foi um dos locais referidos pelo escritor. Ainda hoje se pode viver nele o ambiente da época e comer a saborosa perdiz de que ele falava. A partir da praça seguimos até à colina onde está Alcazar, monumento que se vê de qualquer lugarquando nos aproximamos da cidade. Foi a primitiva acrópole, onde se estabeleceram as primeiras casas da cidade, foi depois Pretório romano e, mais tarde, Alcazaba muçulmana, que Carlos Verificou e converteu em Palácio Real. A decisão de Filipe II de mudar a capital para Madrid atrasou as obras. o que hoje é designado Alcazar de Toledo foi palácio, prisão, casa de caridade e academia militar. Durante a Guerra Civil espanhola sofreu grandes estragos. Foi novamente reconstruído. Hoje é um exemplo significativo do renascimento toledanos e alberga diferentes serviços militares e a biblioteca da cidade, a segunda com mais importância do país.

TOLEDO (CATEDRAL)

CATEDRAL. Saindo deste edifício dirigimo-nos à Praça Maior e daqui para a Catedral, exemplo da mistura de diferentes correntes artísticas. O seu aspecto geral é o de uma estrutura gótica com elementos espanhóis. Situa-se sobre uma antiga igreja visigótica que é alicerce de uma mesquita da Era de domínio muçulmano. Com três portas na fachada, a do Perdão, Inferno e a do Juízo, tem cinco longas colunas enormes e um coro com um órgão gigantesco a meio do templo. Um dos locais mais interessantes do seu interior é omdenominado «Transparente», um retábulo do Santíssimo Sacramento e da Virgem do Sagrário, padroeira da cidade, que atravessa um grande vitral aberto no tecto que recebe directamente a luz do sol. Podemos ainda ver a capela do +Corpus Christi» ou capela «mozárabe», destinada, já no século XVI, à conservação dos rituais «mozárabes». Todos os domingos abre as suas portaspara nela se celebrar a missa segundo essa liturgia. Na sacristia guarda-se uma parte de um museu de grande riqueza, com pinturas de GOya, Van Dyck ou Rubens. Na capela San juan estão expostas jóias oferecidas à igreja durante séculos entre eles a Custódia, magnifica obra de 18 quilos em ouro, 183 em prata dourada procedente da América Latina, e pedras preciosas. A obra foi produzida por ordem da rainha Isabel, a Católica. A Custódia, guardada na sala do tesouro, contém a hóstia sagrada e só sai desta sala para a procissão do «Corpus Christi». Uma vez terminada a visita à Catedral, sai-se pela porta do Mollete para o Ayuntamiento (Câmara Municipal), em direcção à Igreja de São Tomé. A sua fama deve-se, não só à sua bonita torre e estrutura «mudéjar», mas também à obra «O Enterrodo Conde de Orgaz», de EL Greco. A monumental pintura narra o milagre sucedido no momento do enterro do conde nesta igreja, com aparição de dois santos.
Fachada da Catedral de Toledo
Interior da Catedral